O comércio ilegal de tamanho poderio que representa a cocaína faz o autor italiano Roberto Saviano afirmar que “não existem papéis cotados em Bolsa capazes de gerar o lucro da cocaína”. Saviano é catedrático no assunto. Ele assina Zero Zero Zero, livro onde ele disseca toda a estrutura mundial a serviço do comércio da cocaína.
Foram os mexicanos que perceberam o potencial da droga, após o reinado de Pablo Escobar nos anos 80. O México capitalizou para si todos os tentáculos da indústria transformando-se no centro do mundo da cocaína. O volume de dinheiro se justifica pelo alto consumo mundial. De acordo com a ONU, em 2009 foram consumidos 21 toneladas na África, 14 na Ásia, duas na Oceania, mais de 101 toneladas em toda América Latina e Caribe. Na Europa, segundo o Observatório Europeu das Drogas e Toxicodependências, cerca de 13 milhões de europeus cheiraram cocaína ao menos uma vez na vida. No Reino Unido, o número de consumidores quadruplicou em uma década.
Na condição de ilegal, esta indústria impõe seu poder na base da violência. Sem impostos a pagar, destinam valores consideráveis para corromper os personagens que devem ser corrompidos. Os líderes do narcotráfico mexicano têm prazo de validade, afinal, o destino é sempre o mesmo: morre ou é preso. Mas, enquanto está na berlinda, expõe sustentação de riqueza, armas cravadas de ouro, ou seus palácios de gosto muito duvidoso. Além, é claro, de criar um Estado paralelo que, em muitos estados do México, exerce o poder de fato, embora não de direito.
O ex-chanceler do presidente Vicente Fox, entre 2000 e 2003, escritor e professor universitário Jorge Castañeda, diz que não se pode afirmar que o México já tenha contornos de um Narco Estado, em recente entrevista concedida ao Globo News. Castañeda reconhece que alguns estados da federação são dominados pelo poder do narcotráfico. Sem que ele citasse, mas Sinaloa seria um estado dominado por um “governo” narco.
Cocaína legalizada
Castañeda encara de frente a questão da guerra contra a cocaína. Ele credita ao sucessor de Fox, Felipe Calderón, a responsabilidade pelo crescimento do narco poder e enxerga só uma maneira para minimizar esta situação, a legalização das drogas, iniciando pela maconha e encaminhando, também, para a cocaína. Opinião convergente a Castañeda tem o escritor italiano. Somente a legalização poderá enfrentar de frente o poder invisível do narcotráfico. Para se ter uma ideia do tamanho deste poder, Saviano afirma em seu livro que foi o dinheiro vivo do narcotráfico que salvou muitos bancos durante a crise financeira mundial de 2008. O que Saviano afirmou em seu livro se confirmou recentemente com a recente revelação das contas secretas, especialmente no HSBC suíço.
No Uruguai, o ex-presidente José Mujica, sem hipocrisia, decidiu bancar a legalização da maconha. Mesmo sem a aprovação da maioria da população, Pepe conseguiu aprovar seu projeto e os primeiros resultados começam a surtir efeito, afinal a figura do traficante está em extinção no país vizinho.
No Brasil a discussão sobre as drogas não evolui por diversos fatores. Um congresso conservador é o principal empecilho para que se coloque o debate em pauta. Enquanto isso, o tráfico continua exercendo poderes paralelos especialmente nas metrópoles brasileiras. O Rio de Janeiro é o centro mais assustador que serve de “modelo” para os demais centros urbanos brasileiros. Intocáveis.