A revelação dos diálogos travados em ligações telefônicas, desnuda o estilo popular, coloquial de Lula, o verdadeiro Lula no cotidiano longe dos microfones e da liturgia como autoridade. Nada demais. Boa parte da população carrega palavrões em suas frases, mas, para uma personagem de poder político não pega bem. Talvez por isso, suas frases foram tão comentadas nas redes sociais.
Além da expressão “grelo duro” e demais palavrões mais usuais contra e tudo e todos que diz estar contra ele (e que causaram muitos estragos), o diálogo mais revelador do cinismo dos políticos foi o papo com Eduardo Paes. O prefeito do Rio de Janeiro faz gênero de malandro carioca. Usa de gírias em eventos públicos, simpático, sempre sorrindo. Como se fala no popular, um marra. Pois nesta sua marra toda, Eduardo revelou seu caráter no private. Discriminatório e preconceituoso. Hoje ele veio a pública se explica. Acompanhe o que ele disse em matéria da Agência Brasil:
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, reconheceu hoje (17) que foi infeliz e de extremo mau gosto em recente conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula, empossado ministro da Casa Civil. A conversa foi grampeada pela Polícia Federal e divulgada à imprensa com autorização do juiz federal Sérgio Moro. Ontem(16), Moro retirou sigilo do processo contra o ex-presidente, que era investigado na 24º fase da Operação Lava Jato.
Na gravação, o prefeito faz considerações sobre o que chamou de mau humor da presidenta Dilma Rousseff e sobre o que poderia ser entendido como pouco prestígio do governador do estado, Luiz Fernando Pezão. Paes informou que a ligação para o ex-presidente foi um ato de gentileza, após Lula ter sido levado coercitivamente para depor, no início do mês, por ordem de Moro, no aeroporto de Congonhas. O prefeito se desculpou pelas declarações que ele mesmo entendeu inadequadas. “Conversei com o presidente Lula tentando ser gentil com um homem que, como presidente, ajudou muito a cidade, ajudou muito meu governo. Ele [Lula] foi correto na relação política com a prefeitura e permitiu avanços na cidade. Essa tentativa me levou a brincadeiras de profundo mau gosto. Não passaram de brincadeiras, mas, admito, de profundo mau gosto, tecendo comentários que não fazem parte de minha personalidade, que me geram arrependimento e vergonha”, acrescentou Paes. “Divulgada da maneira como foi é de mais mau gosto ainda”. Paes reiterou o pedido de desculpas à população de Maricá, na região metropolitana, que ele insinuou, na gravação, ser um lugar para “pobre”. Ele comparou a cidade a Atibaia e não a outras mais valorizadas do estado, como Petrópolis e Itaipava. “Governo principalmente para os pobres. Daí as palavras e as brincadeiras que utilizei. Acho que é olhar a prática do meu governo, com os investimentos em áreas mais pobres. Vou apelar à minha vida na prática”, justificou.
No áudio grampeado, o prefeito e o presidente Lula também conversam sobre o que consideraram excessos na Lava Jato, como a condução coercitiva do ex-presidente. Paes e Lula também citaram a delação do senador Delcídio do Amaral, que era líder do PT no Senado. “[A operação] Passou de todos os limites mesmo. A gente tem medo de conversar com as pessoas agora”, disse o prefeito, que revelou ter receio de receber representantes de empreiteiras com obras na cidade.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil/Fotos Publicas