A minha história com os Beatles começou há quase 30 anos. Quando eu os descobri, eles já haviam deixado de existir há pelo menos 18 anos e John Lennon já não estava entre nós. Para um garoto, cada audição de cada álbum dos Beatles foi uma descoberta de um novo mundo musical. Quando eu tinha 13 anos, consegui meu primeiro exemplar do lendário álbum Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band, de 1967. Para quem conhecia Beatles praticamente naquela fase do “Yeah, Yeah, Yeah!”, mergulhar num álbum tão complexo e ao mesmo tempo tão belo como Sgt Peppers foi como descobrir um novo mundo e por trás dele, todo movimento revolucionário dos anos 1960, seja na área de moda, cultura, comportamento e político.
Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band foi a válvula de escape para uma banda que havia anos antes, alcançado o topo do topo de um estrelato musical mundial que pouca gente havia chego. Sinatra e Elvis chegaram próximo, mas foram os Beatles que nos quatro cantos do mundo levavam multidões e vendiam milhões de álbuns. O final dessa loucura data de um pouco antes, agosto de 1966, quando os quatro cabeludos de Liverpool decidiram que não iriam mais sair em turnê pelo mundo. Cansados das multidões, cansados dos inúmeros compromissos em rádios, televisão e a vida social de uma banda, John, Paul, George e Ringo deram um tempo.
John Lennon caiu imerso numa rápida carreira de cinema, interpretando um personagem coadjuvante no filme How I Won the War (Como Eu Ganhei a Guerra) – de Richard Lester (o mesmo diretor de Help e A Hard Days Night). George Harrison saiu numa viagem pelo oriente, entre Índia e Paquistão, conhecendo seu “eu” interior e aprendendo mais sobre música indiana e meditação transcendental. Ringo Starr preferiu ficar em Londres com a família, aproveitando o descanso e Paul McCartney, bem esse viveu a noite de Londres e aproveitou para viajar.
Numa dessas viagens de Paul, voltando de Paris, dentro de um avião na companhia do ajudante e roadie da banda, Mal Evans, Paul teve a ideia de fazer um disco novo dos Beatles, a diferença é que os Beatles não seriam os Beatles. Na mesinha de almoço do avião dois frascos escritos Salt (Sal) e Pepper (Pimenta). Com aquilo na cabeça idealizou uma banda formada pelos Beatles, mas que não seriam eles propriamente, mas seriam Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band ( A banda do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimento – tradução livre).
A ideia maluca de Paul foi aceita pelos demais integrantes. Cada um começou a preparar suas músicas, umas já feitas e não aproveitadas e outras compostas na parceria Lennon & MCcartney. Em 1967 os Beatles já não curtiam gravar apenas bateria, baixo, guitarra e esporadicamente um piano, graças ao produtor e maestro, George Martin, que em alguns álbuns antes já ajudava com novidades sonoras em outras músicas, trouxe ao estúdio uma oportunidade única, a base de orquestras sinfônicas, quartetos de cordas e também músicos indianos profissionais.
Ainda em 1966 as gravações iniciaram e nesta leva, músicas que se tornaram lendárias como Strawberry Fields e Penny Lane, estas primeiras inclusive, pelo afã da gravadora EMI, foram lançadas antes do álbum, na forma de single. Ao longo do primeiro quadrimestre de 1967 os quatro fabulosos mergulharam no estúdio para construir a ideia. Foram meses de ensaios, gravações, mixagens e muita criatividade, tanto a base da maconha como de drogas mais pesadas, como os ácidos. Os estúdios Abbey Road receberam além dos Beatles, músicos extras que deram uma nova cara para a música pop. Segundo reza a lenda, a maioria dos arranjos eram repassados para o produtor George Martin pela boca de Paul, então George escrevia os arranjos e depois gravava com os músicos de estúdio.
Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band foi as lojas em 1º de junho de 1967, há exatos 50 anos. A EMI fez uma festa de lançamento grande. O álbum foi muito festejado pela crítica, tanto Londrina como americana. Um dia depois do lançamento, Jimi Hendrix impressionava a plateia num show em Londres executando a faixa título, Sgt Peppers. O álbum se manteve por semanas na primeira posição do top charts dos Estados Unidos e no Reino Unido e foi um imenso marco para a mudança global da música pop.
O legado de Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band vai além dos anos 1960. Ele realmente mudou a música pop e o rock no mundo inteiro. Estúdios tiveram que começar a se adequar para gravações de música pop, inclusive melhorando suas instalações. Vale lembrar que o álbum dos Beatles não é somente uma obra prima musical ou visual – lembrando da lendária capa com vários personagens e os Beatles ao centro – mas foi gravado em 4 canais, uma verdadeira obra de arte de recortes de sons e músicas sobrepostas.
Hoje o álbum completa 50 anos e os Beatles remanescentes, Ringo e Paul e também os familiares de George e John, liberaram a remixagem de todas as faixas do disco. O responsável por isso é Gilles Martin, filho do ex-produtor George Martin, hoje ele Gilles, responsável por mexer em todas as tapes dos álbuns dos Beatles. A banda está lançando o álbum todo remixado em CD e Vinil. Também está sendo lançada, uma caixa com 6 discos, além das músicas oficiais lançadas, outtakes mostrando como cada música foi produzida nos estúdios Abbey Road. Um imenso presente para os milhares de fãs que existem pelo mundo e ainda em 2017, redescobrem a cada lançamento, os segredos da maior banda de rock de todos os tempos, os Beatles.
Rafael Weiss – o autor é jornalista, músico e DJ. Responsável pelo site Mundo47 e pela Sacada do Weiss. Colecionador de artigos e memorabilia dos Beatles desde 1988.