As intermitências da morte, de José Saramago, é o tipo de livro que tem tudo para encher o saco do leitor. As frases são bem longas e os parágrafos, verdadeiros tijolaços. Mas quando bate os olhos no conteúdo a narrativa de Saramago envolve. Tem formato de fábula, mas nada garante que é uma fábula. Eis que a morte deflagra greve no país em questão. Ninguém mais morreu e um grande problema foi causado até mesmo para a igreja católica, pois sem morte não tem religião.
Foram meses sem uma só morte. Os desdobramentos não foram dos mais alvissareiros. Surgiu a maphia que assumiu a tarefa de levar os mais moribundos além da fronteira para serem enterrados, mesmo que vivos. Passados alguns meses, a morte (com minúsculo como ela fazia questão de enfatizar) decidiu que as mortes seriam anunciadas. Cada condenado recebia uma cartinha em papel violeta estipulando o prazo de uma semana para que a família se preparasse.
Até que a carta violeta retornou a cada envio a um músico, violoncelista. A morte foi atrás dele disfarçada de uma linda mulher. Saramago refletiu sobre a morte com bom humor por mais escatológico que o assunto possa parecer.