Histórias, curiosidades, vitórias e derrotas da Seleção Brasileira contadas sob a perspectiva dos “personagens sem voz” do futebol. Esta é a premissa de Gol a gol – Crônicas verde-amarelas, de André Teixeira, com ilustrações de Ricardo Melo. No livro, de 64 páginas, a bola, a chuteira, a trave e a Taça Jules Rimet, entre outros objetos que circundam o futebol, falam da trajetória da Seleção em seus mais de
100 anos de história, numa abordagem inovadora sobre o esporte mais popular do planeta.
Além dos textos e ilustrações, o livro traz também, antes de cada crônica, frases de personalidades como Gilberto Gil, José Lins do Rego e Nelson Rodrigues acerca do futebol. No final das crônicas, um QR Code leva o leitor a vídeos de lances citados pelos “narradores”: a tragédia de 50, a final de 70, a “caçada” promovida pelo zagueiro Gentille a Zico em 82 e o gol de Adriano contra a Argentina, no último minuto, na Copa América de 2003, entre outros. A ideia é fazer um produto que atraia também os leitores mais habituados ao mundo virtual, inclusive com uma versão da obra no formato de e-book.
Trechos:
“Uns me acham complicada, geniosa. Bobagem. Não sou exigente, é só me fazer rir. Lembra do Garrincha? Quando vi aquelas pernas tortas, tive certeza: ia me divertir como nunca. Brincamos pelo mundo todo, alegria pura. Simples, feliz, ninguém resiste. Pedia, eu fazia, sempre tão bom, você não sabe como é. Mas não me tome por boba. Adoro brincar, tô sempre pronta, basta um toque e vou pro jogo, mas quem dá as cartas sou eu. Lembra do Pelé lá no México, contra a Tchecoslováquia? Me chutou lá de longe, do meio do campo, e encheu o peito. Achou que ia mostrar pro mundo todo quem mandava na nossa relação. Que era só falar e pronto, que fazia e acontecia. Chutou e ficou olhando, esperando a tonta aqui ir mais uma vez dormir sozinha na rede enquanto ele comemorava com os amigos”.
“Quando ele me puxou daquele jeito, agressivo, uma coisa escandalosa, junto da raiva veio um certo alívio. O juiz estava bem perto, câmeras pra todo lado, o mundo inteiro olhando, louco pra saber o desfecho da história, pensei que aquilo não ia ficar impune. Inocência minha, o juiz não viu, ou fingiu que não viu, isso acontece muito, ficou tudo por isso mesmo, não foi a primeira nem a última vez. Fiquei ali, despedaçada. O Zico ainda tentou reclamar, mostrou o estrago, estava louco para ganhar uma Copa, um pênalti naquela altura podia mudar tudo. Que nada. O Gentile fez aquela cara de santo, o juiz deixou o barco correr e deu no que deu. Gentile, até no nome tem uma ironia, gentileza ali passou longe, zagueirão à moda antiga, nunca me tratou bem, só na base do pontapé, queria mesmo era me ver longe”.
Sobre os autores:
André Teixeira (foto) é jornalista e fotógrafo, com trabalhos publicados em diversas revistas e jornais. Trabalhou por 17 anos no jornal O Globo, como repórter fotográfico e editor assistente. Foi correspondente das revistas Photo Magazine e Photos & Imagens, produzindo reportagens e entrevistas. Atualmente, se dedica à criação de roteiros e projetos para TV, além de escrever e fotografar para os sites Projeto Colabora, sobre economia sustentável e meio ambiente, e Museu da Pelada, sobre futebol. Também jornalista, Ricardo Melo é Diretor de Produção e Edição da Cepe – Companhia Editora de Pernambuco. Ilustrador e chargista, tem passagens por vários jornais e revistas de Minas, Brasília, Amazonas e Pernambuco. É autor dos livros Eu expludo! (charges), de 1984, e participou da coletânea Tem que dar certo, de 1986. Recebeu o prêmios CNT de Jornalismo, em 1996.