Desde que o advogado Carlos Eduardo Ferreira, o Pingo, me apresentou Gabriel Castanheira através de um vídeo onde estourava a guarita de um condomínio, falei que ele encontraria resistência. Não só pelo vídeo, mas também porque Gabriel fugia dos padrões estéticos de uma sociedade conservadora como a nossa. Tatuado, rabinho de cavalo, barba, forte, sempre usando roupa esportiva ou de combate (quando necessário)… não deu outra, quando o nome dele foi confirmado ouvi poucas e boas a respeito dele por puro preconceito. Este sentimento perdurou por dois anos, acontece que nestes dois anos ele foi responsável por um trabalho nunca antes realizado em BC. Eu que estou falando? Não. Basta olhar a rede social do próprio Castanheira ao anunciar sua saída. Até esse instante foram 274 comentários/elogios ao seu trabalho e 24 compartilhamentos. Alguma dúvida? Veja lá.
Eu conheci o policial e gostei das ideias dele. Para começar chegou rasgando o plano de governo de Fabrício que previa postos fixos nos bairros. Levei o cara no meu falecido programa na Transamérica (na foto de Rafa Weiss) e, garanto, foi a melhor das entrevistas, porque deu uma aula de tática e estratégia. Quando Castanheira sobrevoou pela primeira vez a cidade de helicóptero foi reconhecido pelo piloto. Agradeceu por ter salvo sua família em um episódio de sequestro em Curitiba.
Castanheira colecionou animosidades pelo seu jeito de ser sem concessões políticas. Enfrentou políticos, o comando da PM local, a barra pesada da Fortaleza e combateu a bandidagem. Como ele costumava dizer, o patrimônio público da cidade são os moradores e é para eles que a GM deve trabalhar. E foi assim que fez. Argumentaram em off que “faltou jogo de cintura”. Respondo: que jogo de cintura? Também fiquei sabendo que ele e o prefeito brigaram. Ou ao contrário, sei lá. Talvez por isso, Castanheira citou a tal “incompatibilidade de ideias” na sua despedida.
Poderia ser melhor se houvesse um trabalho conjunto com a PM, mas isto não aconteceu porque temos um prefeito que não é muito de atitudes. Deixou rolar o affair entre o secretário de segurança e o comandante da PM Evaldo Hoffmann. Só um bom motivo poderia valer a cabeça do secretário: a perda do comando sobre a tropa. E isso não aconteceu conforme confidenciaram GMs que conheço. “Esse motivo posso te garantir que não foi”, assegurou um deles. O caso de Castanheira demonstra que na política fazer um bom trabalho não vale nada.
Enfim, perde a cidade por picuinhas paroquianas. Com a saída de Castanheira a tão propalada falácia da República de Curitiba comandando o governo se desfaz (afinal só havia sobrado o secretário) e a cada decisão do prefeito revela-se que tipo de república e valores que o norteia. A mesma que chutou o secretário.