Livro obrigatório para quem gosta de política.
O livro é um romance. Escrito por Marc Dugain, o fato de ser apresentado como romance coloca o leitor em suspense permanente. Afinal, o que é verdade e o que é ficção em A Maldição de Edgar? O livro conta a história do mais poderoso cidadão norte-americano do século XX, o chefão do FBI, John Edgar Hoover por 29 anos (de 1924 a 1972).
Mas não é pela caneta de Dugain e sim por um misterioso manuscrito atribuído a Clyde Tonson, uma espécie de número 2 do FBI durante todo esse período e com a fama histórica de ser o amante de Hoover. O livro é fantástico. Uma aula de política para a pangarezada que se acha mestre em política.
Hoover costumava grampear tudo e todos. Sua longevidade no cargo se explica: ninguém queria bater de frente com ele para não ver seus podres expostos. O ponto fraco de Hoover era a vida sexual do político fora do casamento. Foi quase sem querer que descobriram que além de putanheiro, John Kennedy tinha ejaculação precoce. Quem estava grampeado não era ele e sim a amante suspeita de ser espiã alemã.
Além disso, Hoover tinha um senso de humor incomparável. Sobre sua solteirice, disse: “Simplesmente porque Deus fez uma mulher como Eleanor Roosevelt”. Ele odiava a esposa de Franklin, o primeiro presidente a quem Hoover prestou serviço. Ele sabia que Eleanor colocava galho no marido. “Aquela tarada por Crioulos”, costumava dizer a quem chamava de coruja ululante. O crioulos é bem pejorativo porque pesa sobre seus ombros de ser racista, até porque não havia negros nos quadros da FBI. A essa acusação Hoover respondia que seu motorista era negro.
Sobre a operação anti-comunista, outra obsessão de Hoover e do FBI, Clyde lembra de um médico que o clinicou, se negou a declarar-se comunista numa comissão de investigação e dois anos depois o encontrou vendendo pneus ao passar de carro. Pediu para o motorista parar baixou o vidro da janela e perguntou: “Não se lembra de mim? Sou Clyde Tolson, do FBI”. O ex-médico, com os olhos lacrimejando respondeu: “O senhor é o diabo”.
Hoover foi no psicanalista tentar encontrar uma explicação sobre sua aversão a mulher. Após algumas sessões, o psicanalista concluiu que ele era homossexual e com tendências de desvio de conduta. Hoover não concordou com as conclusões do profissional. Disse que Freud é um comunista e reclamou das sessões gravadas exigindo todas as gravações sem antes comentar que a técnica usada é igual a interrogatórios e ninguém tem a petulância de interrogar o chefe do FBI.
Sobre Cuba e a decisão de Kennedy em invadir a ilha: “Olha esse saco de bosta do Castro, é uma porra de um lixo. Mas uma porra de um lixo coerente. Os caubóis estão achando o quê? Que assim que apagarmos o chefe, os cubanos vão acolher os americanos como libertadores? A gente molhou a mão do Batista durante anos para que ele nos ajudasse a afanr a grana deles e agora querem que eles se revoltem por nós. São birutas, estou lhe dizendo. Querem que a gente fuzile também todos os dirigentes que possam suceder Castro. Estão de brincadeira!”
A frase de Lyndon Johnson depois do assassinato de John Kennedy foi endereçada irmão Bob, o indesejável naquelas alturas para as pretensões do então vice-presidente: “Só mesmo a política para nos fazer dormir na mesma cama que o nosso pior inimigo”.
Hoover faleceu dia 2 de maio de 1972 e o poder norte-americano nunca mais foi o mesmo.