O assassinato covarde de George Floyd reacendeu o sentimento de revolta que levou milhares de pessoas as ruas das principais cidades dos EUA em passeatas contra o racismo. Um dos alvos escolhidos, além da polícia opressora é claro, foram os monumentos públicos. Na euforia em busca dos culpados pelas injustiças baixaram nas figuras de homens públicos homenageados pelo poder reinante da época. Nesta leva até Churchill, um dos líderes que “salvou o mundo” das mãos nazistas entrou na roda. Motivo: ele era racista. Derruba aqui, derruba ali, mas o sistema excludente que criou uma indústria criminal permanece intacto no país das liberdades: os EUA.
O negro nos Estados Unidos deixou de ser escravo para se tornar vagabundo, afinal a escravidão era um sistema econômico e com a liberdade dos negros, sem empregos, foram transformados em vadios, motivo para serem aprisionados. Seguindo uma linha do tempo uma série de leis segregacionistas foi empurrando os negros para o isolamento discriminatório e penal. Quem é um pouco esclarecido e não se deixa levar pelo negacionismo sabe como os negros foram tratados nos EUA, especialmente nos estados do sul onde o racismo era mais explícito com a ação do poder branco dos homens da KKK.
A reação pelos direitos dos negros a partir dos anos 60 era natural após praticamente 100 anos de subjugação imposta pelas Leis de Crow. Entretanto as conquistas foram escamoteadas por um rígido sistema penal. Prisões privatizadas precisam de prisioneiros. Empresas majors se organizam em associação para defender seus interesses de controle da sociedade. Ou seja, se os negros representam 6% da população dos EUA, o percentual aumenta substancialmente quando se fala da população carcerária onde os negros são praticamente 40%. Sem contar nas injustiças promovidas pela justiça norte-americana obrigando minorias a aceitar acordos absurdos.
Essas informações todas estão no esclarecedor documentário 13a Emenda (Netflix) onde o tema é analisado com detalhes. Enquanto isso, nas ruas, a fúria é contra os símbolos do poder como se derrubando-os o problema esteja resolvido de uma vez por todas. Não, não está, não. Thomas Jeffeson, o arauto da república norte-americana, defensor das liberdades tinha uma centena de escravos. Será complicado retirá-lo do Monte Rushmore, em Dakota do Sul. Tiradentes tinha lá seus interesses não reveláveis também e o Borba Gato, coitado, se querem derrubar que seja pela cafonice daquele monumento paulistano. E o que dizer sobre a canção dos Beatles se Penny Lane mudar de nome?
O Brasil é tão racista quanto os EUA, talvez pior porque aqui ninguém se indigna com todas as injustiças e assassinatos cometidos pelo Estado contra a população negra.
Foto: John Bakator/Unsplash.com