A biografia do crítico de música Neil McCornick é algo como A Vida de Brian, claro que guardadas as proporções. Em Morte a Bono McCornick relata toda sua relação com o amigo de escola Paul Hewson, ou no popular, Bono Vox e todos os músicos da banda U2, Adam Clayton, The Edge e o baterista Larry Mullen Jr, além de sua tentativa frustada de ser um músico famoso.
Tudo começou para McCornick em 1975 quando foi matriculado na Mount Temple, segundo o próprio autor, “a primeira escola estadual, mista e laica de Dublin”. Ele relata seu envolvimento com Bono e a fama com um misto de orgulho e inveja. E também suas passagens como músico frustado e crítico de música com muito humor. Desde o início quando começou a se familiarizar lendo a New Musical Express, conforme o relato a seguir:
Entre suas tentativas como músico de rock, o “Brian de Bono” passou pela Hot Press, uma pequena publicação de rock irlandesa que chegou a se assanhar expandindo sua circulação até a Inglaterra, mas por pouco tempo. Na HP arriscou uma resenha sobre Bob Dylan: “Por que eu deveria ouvir um velho hippie que canta como um cachorro sendo arrastado por uma coleira de arame farpado?” De castigo, levou Highway 61 Revisited para ouvir em casa sem antes levar um sermão de seu chefe que lhe disse ser Dylan um punk antes mesmo do punk ser inventado. A audição do álbum, especialmente Ballad of a Thin Man foi uma abertura mental para ele, um fã dos Beatles e um ateu incorrigível, antítese de Bono, um cristão na ativa.
Numa outra oportunidade, quando Bono já era famoso, Bob Dylan chamou o vocalista do U2 para uma conversa no seu camarim antes do show. Bono convocou Neil que estava nos bastidores para ir junto, mas foi barrado. Na saída viu um alvoroço em torno de um cara. Era Dylan. Neil se saiu com essa pérola das mais verdadeiras ao reconhecer o ídolo, um “sujeito barrigudo e com o rosto cor de pêssego enrugado (…) é verdade o que dizem. Jamais devemos conhecer nossos heróis”. Próximo dele, ouvindo tudo, inclusive o que havia dito antes sobre as condições de Dylan (“Ele está chapado? Não acredito que ele vá subir ao palco desse jeito”) estavam os dois filhos de Bob Zimmermann.
Quando conheceu Ray Davies, do Kinks, McCornick comentou sobre a tentativa de dar certo com sua banda que tinha seu irmão, assim como a banda dos irmãos Davies. – “Não vai dar certo”, disse na lata Ray, que estava na companhia de sua então namorada Chrissie Hynde. E completou:
Foi Bono que, depois de alguns discos bem sucedidos já lançados, disse ao seu amigo começar a viver a vida sem o futuro imaginário que vivia perseguindo. A vida é o que acontece enquanto estamos ocupados fazendo outros planos alertou Bono fazendo uso de uma frase de John Lennon. Sua companheira, Glória, o alertou da mesma forma até que McCornick começou sua carreira de jornalista, primeiro vendendo matérias a revistas famosas como a GQ para, na sequência ser convidado a assumir uma coluna no Daily Telegraph sobre música. Irrequieto ainda se apresentava com um grupo de músicos num Pub. Gravou uma demo e um amigo seu da indústria gostou. Mas, como sempre quis o destino, seu amigo foi despedido.