O jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano pode ser considerado um sobrevivente dos anos de chumbo que afetaram a América do Sul nos anos 60 e 70. Durante este período viveu intensamente muitas histórias em diferentes países. Ainda fresco na sua memória, Galeano lançou em 1978 o livro Dias e Noites de Amor e de Guerra, uma espécie de biografia, mais dos outros do que dele próprio. Sem ordem cronológica, sem compromisso algum com um roteiro, mas que ironicamente as histórias se completam.
Sobre a morte (a malária que contraiu na Venezuela): “Sentia que estava morrendo e não esperava que ninguém aparecesse em meio ao delírio e abrisse seus braços para salvar-me das fervuras e punhaladas da febre: a dor era tanto que não cabia em mim nada mais que ela, e eu simplesmente queria morrer porque a morte doía menos (…) a quinina, uma dose cavalar que meteram em minhas veias, tinha me salvado. Pouco a pouco ia me recuperando. Assustei quando vi meu mijo negro, meu sangue morto, e mais ainda quando voltou a febre. Apertei o braço do médico e pedi que não me deixasse morrer, porque eu não queria mais morrer, e ele riu e me disse que não enchesse o saco”. Em tempos de pandemia, serve como reflexão, assim como outro comentário sobre a morte, mas esta sem relação com doença: “A histeria não é história nem o revolucionário um amante da morte. A morte, que algumas vezes me tomou e me largou, volta e meia me chama até hoje, e eu mando ela pra puta que a pariu”.
Sobre as ditaduras:
Como o sistema totalitário funciona sobre a sociedade, algo que você vê nos dias de hoje em algumas atitudes. Galeano: “sem uma gota de sangue, sem nem ao menos uma lágrima, se executa a cotidiana matança do melhor que cada tem dentro de si (…) as pessoas tê medo de se falar e se olhar (…) quando alguém te olha e sustenta esse olhar você pensa: ‘vai me foder’. O gerente diz ao empregado que era seu amigo: – Tive de denunciar você. Pediram listas. Era preciso dar algum nome. Se puder, perdoe (…) de cada 30 uruguaios, um tem a função de vigiar, perseguir, castigar os outros (…) se exige dos estudantes que denunciem os companheiros, se exorta as crianças a denunciar os professores”.
Mais: “Não é necessário saber ler e escrever para escutar os rádios transistores ou olhar a televisão e receber o ecado cotidiano que ensina a aceitar o domínio do mais forte e confundir a personalidade com um automóvel, a digbidade com um cigarro e a felicidade com uma salsicha”.
Sobre a noção de prosperidade da direita excludente:
O crime de opinião ficou bem explícito nos anos de chumbo. Jornalistas e pensadores foram perseguidos, presos, mortos, desaparecidos. Jornais e revistas tirados de circulação, inclusive a Crisis, revista onde Galeano trabalhava. Quando o texto de um jornalista foi censurado, ele comentou com o filho:
– Não deixam a gente falar. Não deixam a gente dizer nada. No que respondeu o filho: “Minha professora faz a mesma coisa comigo.