Entrevista publicada na revista Photo Magazine na sua edição 13, de abril/maio de 2007.
Uma viagem ao nordeste aos 18 anos com uma câmera a tiracolo e o contato com um laboratório P&B despertaram a paixão de João Kehl pela fotografia. Hoje, aos 24 anos, já tem seu trabalho reconhecido. Formado em fotografia pelo Senac, iniciou na Cia. De Foto como assistente, sendo promovido a fotógrafo em 2005. Um ano depois foi selecionado pela Joop Swart Master Class, da World Press Photo, permanecendo por seis meses em Amsterdam que acabou lhe rendendo o prêmio que hoje comemora. Kehl fala da emoção de estar na galeria do World Press.
Você foi premiado com um ensaio produzido para o World Press. Poderia explicar como aconteceu?
A WPP organiza anualmente um programa de treinamento para jovens fotógrafos que trabalham com fotojornalismo ou fotodocumentarismo, chamado Joop Swart Master Class. A WPP criou comitês em diversos países do mundo responsáveis por indicar fotógrafos que farão parte do programa. No Brasil, esse comitê formado pelo Fotosite e pela Mônica Maia, da Agência Estado. Em 2006 fui indicado juntamente com mais três brasileiros, num total de 124 candidatos do mundo inteiro. Cada um desses indicados enviou um portfólio geral de seu trabalho que foi utilizado no processo de seleção dos 12 fotógrafos que realizaram o curso. Depois desse processo de seleção, a WPP forneceu um mesmo tema para que esses 12 fotógrafos desenvolvessem um ensaio. No ano passado o tema foi “RISK” (risco). Foi assim que resolvi fazer o trabalho dos boxeadores, pensando não apenas no risco físico a que esses lutadores estão submetidos, mas também encarando o risco como probabilidade.
O ensaio chegou a ser publicado?
O ensaio não foi publicado em nenhum veículo brasileiro. Junto com a exposição que foi realizada em Amsterdam, saiu um livro e depois o trabalho foi selecionado para ser publicado na revista do patrocinador do Master Class. Acredito que não exista no Brasil revistas que publiquem um trabalho como esse. A não ser revistas especializadas em fotografia.
Você, de certa forma, esperava? Qual sua sensação ao saber do resultado?
Eu acreditava que podia ser premiado sim, em primeiro lugar porque meu trabalho já havia sido “testado” no Master Class e teve uma boa repercussão. E em segundo lugar, eu o havia inscrito numa categoria (Sports Features Stories) que não era das mais disputadas. Recebi a notícia do prêmio por telefone. O Pio Figueiroa (fotógrafo com quem trabalho) estava de férias em Pernambuco e me ligou às 8 horas da manhã para avisar que havia sido premiado. A sensação é incrível. Afinal de contas estamos falando da maior premiação do fotojornalismo mundial.Foi um reconhecimento que eu nunca imaginei que pudesse vir tão cedo. É, ao mesmo tempo, meu nome aparecendo na mídia ao redor do mundo, ao lado de nomes como Paolo Pellegrin e Christopher Anderson, da Magnum.
Profissionalmente, um prêmio desse nível o que pode representar?
Sinceramente, eu acredito que um prêmio desse porte foi muito importante pois joga seu nome no mundo, o que aos poucos, acho que amplia as possibilidades profissionais, principalmente no mercado internacional. De qualquer maneira não penso em sair de onde estou. Espero, também, que esse trabalho sirva para incentivar o fotojornalismo brasileiro, que ultimamente anda meio aos trancos e barrancos.