O fotógrafo Flávio Damm foi colaborador da Photo Magazine praticamente por toda sua existência de 10 anos de circulação. Damm nos deixou sábado passado aos 92 anos de idade. Ahhh se nossa troca de e-mails durante todo aquele período falasse. Reproduzirei alguns de seus artigos como homenagem a esse homem incrível e um fotógrafo como poucos que levou a sério a máxima de que a câmara fotográfica é uma extensão dos olhos.
O exercício da profissão de fotojornalista oferece a possibilidade de uma abertura de portas que nem uma outra atividade promete: conhecer gente nova a cada dia, cada pauta levando o profissional a lugares “nunca dantes navegados”, plagiando Camões.
Experiências, casos, acidentes, incidentes e algumas personalidades nos marcaram de tal forma que passaram a fazer parte de um rol de histórias que, hoje, passados muitos anos, surpreendem e deliciam quem as ouve, em palestras, quando relatamos nossa vivência profissional e dissertamos sobre episódios e descrevendo com quem tivemos oportunidade de conviver.
E o primeiro passo para colecionar essas experiências é aprender a fotografar. E, na fotografia, optar pelo fotojornalismo como profissão. Claro que isto será uma opção vazada em fatores muito pessoais, a soma de vocação com talento e uma disposição para enfrentar dificuldades inerentes a uma atividade irmã gêmea da aventura.
Esta ideia de opção pelo fotojornalismo tem duas etapas distintas, mas interligadas. Primeiro fotografar e segundo batalhar a oportunidade de trabalho.
E a última estará sempre ligada à qualidade do resultado obtido na primeira. Por isto, ao longo de palestras que faço, em universidades e entrevistas, surge uma pergunta, precisamente a que me dá mais ânimo em responder, a clássica “como se aprende a fotografar”?
E eu tenho uma resposta pronta, fotografando. Assim como se aprende a andar de bicicleta pedalando, a mesma regra se aplica à fotografia, é fotografando, claro, que se aprende a fotografar. Óbvio, mas é o único caminho, podem crer. E, tal como pedalando, começando a fotografar não parem mais. Parando a queda é fatal. Em fotografia também.
E este “ato fotográfico” não precisa ser, necessariamente, materializado com câmera analógica ou digital: o exercício permanente do olhar na busca, a identificação e o encontro do motivo em qualquer lugar e a qualquer hora criarão, o que eu costumo chamar, o “olho pronto”. Este sim, a “ferramenta” básica para o exercício do fotojornalismo.
Encontrei recentemente uma frase que dá bem o ponto de partida para justificar o ato de optar pelo fotojornalismo, “um país sem bons fotógrafos é como uma casa sem espelhos”. Vou mais longe aliando o bom fotógrafo ao bom fotojornalista.
Primeiro bom fotógrafo, em seguida bom fotojornalista, este diante da magnífica tarefa que envolve uma responsabilidade de caráter ético no registro do que é espelho da sociedade, pois é através do fotojornalismo que se reflete um país, se retrata a sua realidade, formando opinião e legando inconteste documentação para a escrita da história visual dele e de seu povo.
Antecipo aos futuros fotojornalistas de que nunca trabalharão burocraticamente sentados oito horas carimbando papéis. Estarão, sim, exercendo a melhor profissão do mundo. Garanto e assino em baixo.