Horas depois de publicar a coluna semanal (leia) recebi uma mensagem chamando a minha atenção que o fone da central municipal de atendimento da Covid19 tem horário. Ou seja, não é um serviço 24 horas. Respondi então que arrumaria a informação publicada, mas que a emenda sairia pior do que o soneto. Como iria explicar pro meu amigo com suspeita de Covid19 e não atendido que o serviço não é 24 horas num estágio tão avançado da pandemia?
Vivemos tempos difíceis, bem difíceis. Não só pela pandemia em si, mas pela reação das pessoas para um período tão longo de privações. A pira é geral por motivos diversos. Entendo que para viver é preciso produzir, mas não entendo pessoas se aglomerando em bares. Na cabeça dos humanistas que dão valor a vida, os donos de bar e seus frequentadores são, por tabela, assassinos culposos. Li a matéria de um caso em Curitiba onde a jovem foi a uma festa e depois num evento familiar contaminando seus parentes. Três morreram.
Esse comportamento negacionista, seja na compreensão da “gripezinha” tão irresponsavelmente promovida pelo líder maior da Nação, ou como aquela sensação de que só pega nos outros, provoca consequências nefastas na saúde pública e privada. Claro, a elite decretou o fim da pandemia e acredita que seus planos de saúde garantem a “remota” possibilidade de contrair o coronga. Essa mesma elite vai constatar que seu dinheiro não vale nada quando bater na porta do hospital particular e não houver vagas.
A cada nova notícia, a cada nova mensagem, a situação se agrava e nosso psicológico se abala. Só não abala os negacionistas para quem morrer é um detalhe (quando são os outros). Essa semana recebi a mensagem de um médico, amigo das antigas, adversário no futebol e no tênis na juventude. Ele queria um livro. Disse a ele que levaria, só não garanti o dia, porque estou meio encagaçado com tudo que vejo. Ele respondeu, “nem me fala”, dizendo que perdeu muitos colegas de trabalho e amigos.
Maldito vírus. Vivemos com medo e sem esperança de proteção, porque nossos governantes parecem ter ligado o f-se. O líder maior é um genocida, isso tá na cara, mas aqui, no varejo, a coisa está muito feia. Não vejo nosso prefeito tomar frente da situação como fez lá atrás. Fechar a cidade? Nem digo isso. Acredito que com critérios e fiscalização rígida podemos conviver enquanto não vem a vacina. Mas, que pelo menos lidere uma campanha maciça que provoque o medo e a reflexão dimensionando de fato essa pandemia. Não vejo mais nada sobre novos leitos. Não vejo político fazendo live em frente ao Hospital Santa Inês. Não vejo mais nada que nos ofereça algum alento, alguma segurança. Parece que esse é o decreto informal do novo (a)normal.
Para encerrar, desejo boa viagem ao prefeito. Você vai e nós ficamos aqui, como dizem os rapazes do Pânico, com a tóba na mão.
Foto ilustrativa: Mufid Majnum/unsplash.com