Conheci o Júlio Tedesco no início dos anos 80, época do Shopping de Verão, do camping e do boliche. Ele como empresário e eu como repórter do Jornal de Santa Catarina. Foi uma relação de respeito, tanto que em 96, ele bancou eu e o Gaston Duffort no circuito gaúcho de padel (paddle na época). Recordo que fomos na sede da empresa em Porto Alegre, onde ele nos recebeu, apresentamos o uniforme de jogo nos desejando boa sorte e juízo, afinal estávamos levando a marca da empresa no peito.
Júlio foi um amante da velocidade. Pilotou aqueles opalões no período jurássico da stock car. Foi também um grande anfitrião. Suas festas de aniversário costumavam reunir centenas de amigos com muita música, comida e alegria. Mas foi como empresário que ele revelou ser um visionário, uma característica que herdou do pai Normando. Em 2019 fiquei duas horas conversando com ele com o gravador ligado. Foi uma das últimas vezes que o encontrei. Depois disso ainda entreguei um exemplar do livro que ajudou a fazer e trocávamos mensagens de whats. O último, ele enviou seu vinho de preferência, um tinto cabernet sauvignon que eu queria presenteá-lo como exercício de gratidão por acreditar no meu trabalho.
Foi durante essa gravação que ele contou sobre a revolução que a Marina representou para a cidade, a partir de 2006, data de sua inauguração. Leia:
“A Marina foi o grande lance. Quando aprovamos o projeto, os construtores correram para comprar terrenos nossos, e naquela época tínhamos dividido os patrimônios em Balneário Camboriú eu e meu irmão (Marcos). Meu irmão não queria a Marina. Fizemos então a divisão de patrimônio. Eu fiquei com a Marina e meu irmão com os terrenos. As construtoras foram para cima do meu irmão, Eram muitos terrenos de frente pro mar. Ele não vendeu e os terrenos começaram a valorizar. Vendemos o terreno do Pharol para o Cechinel. Quando ele comprou os outros enlouqueceram e começaram a subir os preços. Chegaram a 38 mil reais o metro quadrado, o mais caro do Brasil. Balneário Camboriú valorizou por causa da Marina. Eles viram a possibilidade, tiveram a visão da Marina atrair gente de muito dinheiro. E eles se encantaram pela Barra Sul. Os edifícios da Barra Sul são melhores do que nas outras regiões. Pessoal que vem de fora tem uma estrutura social no edifício que eles não têm na cidade deles. A praia acaba sendo um acessório porque no prédio tem tudo para fazer. Tudo isso, afirmo, foi por causa da Marina. Eu falava já em 1986/87 na Marina, que tinha que ter uma Marina. Todas as marinas que tem no Rio Camboriú somados a nossa tem mais de mil barcos. Naquela época tinha uma e olha lá. A Barra tinha problema pra passar e dragamos tudo, e tudo com licença é bom registrar”.
Poderia contar a história do bondindinho (não o teleférico) que pertenceu ao Grupo Tedesco, mas só no próximo volume do livro. Valeu Júlio, até a próxima…