A última vez que frequentei esse ambiente da foto há praticamente um ano tinha muita gente bonita, jovem, música mecânica das melhores, cerveja gelada e o clima se criando para o show ao vivo. Muita aglomeração, sorrisos e alegria. Hoje voltei lá para comprar uma camiseta dos guerreiros rapazes que se viram para manter a dignidade sem driblar decretos ou colocar em risco a legião de seguidores do lema CRACCA (Cerveja, Rock, Arte, Cultura, Comida e Amigos. Volto e vejo o mesmo ambiente adaptado as terríveis tempos de crise sanitária, sem gente e música.
Assim como eles muita gente que vive de cultura está passando o maior perrengue. Os rapazes se viram com a cozinha, serviços de fotografia e moldura, agora com a confecção com as bem transadas camisetas, mas muita gente não tem renda alguma. Gente do teatro, da música, artistas em geral são obrigados a fazer o que vem pela frente para sobreviver. O poder público pouco está sensibilizado. Estão mais preocupados em pagar seus barnabés. Vi uma entrevista do governador Carlos Moises, aquele que se elegeu não pelo seu nome, mas pelo seu número, que me deu vontade de entrar na TV e encher o cara de porrada.
Com aquela cara de cínico disse que iria criar grupos de estudos (grupos de estudo?) e citou que agilizará uma lei de incentivo a cultura baseado no ICMs que dorme na sua gaveta para ser sancionado há três anos. Ele quer sancionar agora que a economia está parada. Para dimensionar o drama das pessoas que vivem da economia da cultura, vi a entrevista da proprietária do Ó do Borogodó, um espaço paulistano por onde orbitavam cerca de 70 músicos de samba. Não era um bar baseado na gastronomia, mas no alto astral das rodas de samba. Ela disse que o poder público deu as costas e hoje tentam manter a casa com uma vaquinha digital, mesmo com as portas fechadas.
Na esfera municipal, aqui em BC nada se fez em amparo aos artistas e empreendedores culturais. De consolo uma verba federal através da Lei Aldir Blanc, compositor que morreu de Covid. Em São Paulo, capital, foi criado agora a premiação e apoio à casas noturnas e espaços culturais, mas aqui só se vê festas clandestinas disseminadoras do vírus e morte de jovens. O prefeito reeleito até prometeu em campanha ajuda, mas depois de eleito esqueceu da promessa. Não se ouviu mais falar em ajuda.
Ao Mercado Pirata, longa vida. Ainda vamos aglomerar muito. Aos políticos fica aqui registrado o repúdio às incertezas resultantes de gestões e decisões sofríveis.
Foto: João Gabriel Monteiro