Há seis anos fiquei algumas horas no apartamento do Dona Rosinha conversando com o ex-senador Jaison Barreto, figura carismática que fixou residência em Balneário Camboriú há muitos anos e que nos deixou neste domingo. O objetivo era falar sobre Walter Barichello, mas, bom papo, conversamos sobre outras coisas. Relembro aqui sobre quando Jaison deixou a política para se lançar a função de capitalista, dono de posto de combustível.
“Voltar para a medicina não dava, a política corrompe o cara”, justificou assim Jaison Barreto seu ingresso ao mundo do empreendedorismo. Mas, para tal, precisava de uma força política, afinal, na época (início dos anos 80) havia cotas de postos em cada região. Justamente a política que conspirava contra ele. “Veio o colégio eleitoral e me foderam. O PMDB se voltou contra mim e eu não tinha para quem apelar. Quem intercedeu junto ao prefeito para não criarem problema foi o Baricha falando com o Schultz”, recorda Jaison referindo-se a Barichello e ao ex-prefeito Harold Schultz. Detalhe: a cota em Balneário Camboriú já estava preenchida.
Que bandeira? “Teria com a BR mas não era possível. A única bandeira que tinha disponível na época era da Esso, putz, logo quem, o mundo é meio atravessado”, comentou o ex-senador com ironia. E no governo federal, quem poderia lhe ajudar? “Era época de Sarney, ele não me atendia. Fui conseguir, por incrível que pareça, com Aureliano Chaves. Ele conseguiu a concessão. Aí enfrentei a briga aqui com os donos de postos que não queriam”, relata.
Conta mais: “Os donos dos postos foram para cima do prefeito para embaralhar as cartas. Eu tinha a autorização com as exigências de não fazer perto de escola, de outro posto, de não sei o que. O Baricha dizia isso é uma sacanagem, na Terceira Avenida não tem nada, sem problema. O Baricha amaciou o Schultz que não criou problema. Fiquei muito pouco tempo com o posto. Peguei a época do Sarney com inflação de dois mil por cento. A bomba estourou na minha mão. Era o único posto que trabalhava 24 horas por dia, por incrível que pareça. Havia o imposto sobre combustível. Em Santa Catarina o único posto que tinha nota fiscal eletrônica era em Curitibanos. Tive ideia de ‘jirico’ e implantei. Isso me impedia de sonegar. A nota fiscal era caríssima. Fizeram uma guerra contra mim nesta cidade. Os postos de gasolina eram taxados de orelha então sonegavam pra diabo. O único cara que não podia sonegar era eu. Me incomodei. Foram anos de confusão para a minha cabeça. Tu vê as coisas que eu me meto”.
Época de muita inflação e confusão: “Quando chegava 7 horas da manhã, a gente via os petroleiros chegando. Eram 4, 5 navios no rio. Eles ficavam aguardando o JN (Jornal Nacional) às 8 horas da noite. Os putos não entregavam gasolina. As 8 horas fechavam os postos, só o meu não. Certa feita chegou a subir 50%, 60%. Os concorrentes acumulavam. Compravam por 10 e vendiam por 17 e eu ao contrário. A Terceira Avenida fazia fila até próximo a Casas da Água. E eu tinha que chamar a polícia. Quando acabava o combustível a turma achava que eu estava de sacanagem. Cansei de ir lá pra fila ficar conversando com os cara. Ficava perto do posto, mas quando precisava eu ia seguindo a fila e avisava não sei se vai dar. Vai acabar e quando acabava os caras ficavam puto da vida. Eram aumentos violentos”.
A parte II é sobre política… aguarde. Vá em paz Jaison.
Foto: Jornal Página 3