Caiu na minha mão o livro “O Linchamento que muitos querem esquecer”, de autoria de Monica Hass. Fui saber que se trata do trágico episódio que marcou o ciclo de desenvolvimento econômico da cidade de Chapecó, uma cidade que surgiu de uma companhia de colonização e sob a forte pressão política entre PSD e UDN.
A sociedade que se formava atraiu muita gente especialmente do Rio Grande do Sul sob o comando de um coronel responsável pela companhia de colonização, iniciativa privada (com o apoio e interesse público) que dominou a ocupação do oeste de Santa Catarina, a partir do final dos anos 20 do século XX.
O responsável era o poderoso Coronel Ernesto Bertaso, líder do PSD a partir da criação dos partidos na metade dos anos 40. Seu filho, Serafim foi nomeado. A economia era baseada na extração de madeira. Gente “estranha” costumava chegar no local dominado pela igreja católica em conluio com o poder político.
Até que quatro gaúchos foram presos, dois deles estranhos a comunidade, ladrões que costumavam colocar fogo num estabelecimento para poderem roubar, até que colocaram fogo na igreja. Tudo acontece em 50, inclusive a perda do poder pelo PSD. O delegado corrupto instiga a população contra os presos mesmo que dois deles não tenha indícios suficientes para incrimina-los, os irmãos Lima.
Até que a tragédia anunciada acontece. Mais de 40 moradores foram convencidos do mal que os presos representavam, invadiram a cadeia e mataram sem dó os quatro prisioneiros. Os culpados não existiram por conta dos poderes político, judiciário e de religião. O padre sumiu, o delegado foi inocentado após o retorno do PSD ao poder.
E a fama de Chapecó sem lei que desestimulou a vinda de gente para coloniza-la foi abafada com a criação da Sadia, a redenção da chamada “capital do oeste” a partir do linchamento.
O fotojornalista Flávio Damm já havia me falado sobre o episódio há muitos anos já que a Revista o Cruzeiro realizou uma reportagem especial que teve repercussão mundial.