Em tempos de extremismo religioso nada mais atual que o movimento que resultou na Guerra do Contestado entre os anos de 1914 e 1916, considerada uma saga maior do que a de Canudos. Uma das abordagens sobre o que aconteceu em terras catarinenses está no livro A Sangrenta Guerra do Contestado, de Paulo Ramos Derengoski, que apresenta bem a dimensão dos motivos que cercaram o fomento do fanatismo religioso em torno da figura de “São João Maria”.
Um dos motivos, muito provável o principal, foi de caráter econômico com a construção da ferrovia e a “entrega” de terras a empresa norte-americana Lumber Co. A empresa gringa “ganhou” uma extensão considerável de terras entre o leito da ferrovia para retirar madeira, as araucárias. Por consequência muito camponês ficou sem terra e foi se envolvendo com o movimento que surgia.
Fato curioso foi que “pela primeira vez num conflito civil em todo o mundo” foram utilizados dois aviões pilotados por dois italianos e que, por ironia do destino, um deles caiu ao bater numa araucária secular.
A Guerra também produziu personagens que viriam ser reconhecidos como Matos da Costa que tentou resolver a situação de forma pacífica e acabou morto e Frei Rogério. Revelou também militares estrategistas para debelar o movimento, traidores e frases como “mosca se mata com muito vinagre e não com pouco açúcar”, de autoria de um dos líderes fanáticos, Aleixo de Lima que acabou assassinado por outro rebelde, Adeodato Ramos, chamado de Flagelo de Deus.
Movimentos extremistas só podem ser compreendidos conhecendo as circunstâncias que o cercam. Guardada as proporções, qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
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