Agosto do ano passado estive em Mendoza para acompanhar a etapa do Premier Padel. Numa corrida de táxi, claro, provoquei o taxista sobre a situação da Argentina, no que ele respondeu: “Argentino nasceu para viver na merda”. Ontem, o argentino de saco cheio de viver na merda, decidiu por arriscar seu voto a Javier Milei num ato de verdadeiro desespero.
Milei não tem qualquer histórico político, é um outsider que se auto intitula um ancap. Confesso que mesmo pós-graduado em História nunca havia ouvido falar em anarcocapitalismo, claro que uma falha minha por não continuar estudando e me atualizando das correntes de pensamento após encerrar meu período na academia.
Tenho lá minhas dúvidas sobre a implementação de um modelo ancap. Tenho a impressão que quem está na merda afundará mais na merda. A desigualdade social existente no país (sim tem muita gente rica na Argentina que ganha com a crise) acredito que será turbinada. A dolarização da economia que, a princípio, deverá reagir como um confisco dos pesos, imagino fazer parte do modelo que Milei pretende implementar.
Uma coisa é certa. Ninguém gosta de viver permanentemente na merda que soou como destino conforme as palavras do taxista. Chega dos vícios e sistemas de corrupção que o peronismo/kircherismo implantou com tantos anos de poder. A corda esticou e arrebentou com a vitória de Milei mesmo com toda sua atuação exótica, bizarra até. De uma forma ou de outra, o futuro dos argentinos é incerto.
Em tempo: o processo eleitoral na Argentina foi civilizado. Sem histerias, sem tentativa de golpe, com o candidato derrotado democraticamente ligando para vencedor e reconhecendo sua derrota mesmo antes dos números da eleição serem anunciados oficialmente. De fato, outro nível de formação política.