“O careca envergonhado é cúmplice de sua infelicidade e sofre. A tal ponto que, em alguns casos, resolve comprar uma peruca. E aí é um drama. Enquanto até então a calvície nem chamava a atenção (quando vê um careca na rua, você não diz “olha, um careca”), todo mundo passa a se virar para olhar discretamente o estranho topete. O amontoado de pelos espetados no alto do coco, em vez de disfarçar o que o infeliz acha ser um defeito, revela ao mundo todo seu complexo. Um careca de peruca fica ainda mais careca. O disfarce faz do careca um careca o quadrado”. Trecho da crônica Morte aos carecas de Peruca!“, um dos tantos assinados por Stéphane Charbonnier, o Charb, morto no atentado ao Charlie Hebdo, no seu livro Pequeno Tratado da Intolerância.
Charb decreta a morte de uma série de situações de nosso cotidiano: enroladores de baseado; leitores de jornais gratuitos; chinelos de dedo; decoradores de restaurante; tatuados; óculos descolados; jornalistas esportivos; clientes de supermercado; mal barbeados; farmacêuticos de jaleco; locutoras de futebol; gorros de papai noel e assim sucessivamente. Os textos são bem divertidos e sempre concluídos com um “você há de concordar” seguido da sugestão de morte para cada uma das situações. Por ironia do destino, Charb foi assassinado na redação do Charles Hebdo.