Matéria publicada na edição 32 da Photo Magazine assinada pelo fotógrafo do O Globo, em Brasília na época, Gustavo Miranda, que colaborava porque gostava da revista.
Um lugar agradável, com restaurantes e lanchonetes, shows com ingressos baratos e maravilhosas exposições de arte. Em seu enorme e arborizado gramado estão espalhadas esculturas de diversos artistas. Espaçoso e isolado, às margens do Lago Paranoá, o CCBB parecia perfeito para abrigar o gabinete provisório da Presidência da República. E era.
Um único problema quebrava a cabeça dos zelosos assessores presidenciais: a imprensa. Onde colocar esses seres estranhos e abusados, que com suas perguntas impertinentes e suas objetivas potentes, têm a missão de contar e mostrar tudo a todos. Uma sala acanhada e isolada, ao lado das instalações de manutenção do CCBB, foi a saída encontrada para acomodar esses profissionais. Do outro lado da rua, a pelo menos meio quilômetro de distância do improvisado “comitê de imprensa’, fica a entrada principal por onde transitam as autoridades. Num governo em que na relação com a mídia é baseada no “quanto mais longe melhor”, foi a solução ideal para eles.
À revelia dos poderosos, a imprensa montou, então, acampamento em frente à portaria principal do prédio, com cadeirinhas de praia, guarda-chuvas e bonés. A esperança era que de lá a informação fluiria melhor. O contra ataque veio logo: metros e mais metros de grades foram colocadas para manter as feras à distância. Com muita paciência e determinação, as criaturas aguardavam horas e horas a fio por notícias que, muitas vezes, não chegavam. A espera poucas vezes valia a pena, mas era um dever profissional se manter atento aos fatos.
Desde que o governo mudou-se de mala e cuia para o CCBB, eu comecei a fotografar os coleguinhas. Inspirado num trabalho do fotógrafo André Dusek, vi do espaldar da minha cadeira de praia a oportunidade de mostrar como funcionam os bastidores da notícia. Todos os personagens deste ensaio, homens e mulheres da imprensa, são fotógrafos, repórteres e cinegrafistas que sofrem com sol, chuva, frio, calor, fome e sede para levar a notícia à população. Eles são as criaturas da grade.
Fotos: Gustavo Miranda