A exposição fotográfica Gente no MON, de Dico Kremer, ficou em cartaz no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, durante três meses. Agora esta semana foi editado o livro com imagens do trabalho realizado pelo fotógrafo. Na sequência, a Publixer Magazine reproduz o texto de Kremer sobre o trabalho e sua relação com os museus.
Esse est percipi*
Eu era pequeno, talvez 6 ou 7 anos, quando entrei pela primeira vez num museu. Minha mãe me levou ao Museu Paranaense. Ficava na Rua Buenos Aires nº 200 esquina com a Benjamin Lins, perto da casa dos meus pais. Voltei muitas vezes ao local para passear e olhar as inúmeras obras e objetos. O assoalho era tão fantástico que, para entrar, tínhamos que colocar pantufas. Quem me lembrou do fato foi meu amigo Fernando Bini. Mais tarde frequentei o museu na antiga sede da Prefeitura Municipal de Curitiba quando seu diretor era o Professor Oldemar Blasi.
Em nossas viagens à Europa Carmen Lúcia e eu visitamos os mais importantes museus, os que mais chamavam nossa atenção. A lista é longa, bem longa. Há várias espécies de museus. Há os que tem obras de um só artista, os de objetos, as pinacotecas, e a longa lista dos temáticos: de arte sacra, de armas, da música, do automóvel, etc.
Em Curitiba temos ótimos museus entre os do poder público e os administrados pela iniciativa privada. E há um que se tornou um ícone ou um cartão postal da cidade. É o Museu Oscar Niemeyer (MON), também chamado Museu do Olho. E é mais que um museu, no sentido, digamos, clássico da palavra. Além de seu acervo funciona também como uma galeria, com exposições temporárias, de variada duração, de artistas do Brasil e do exterior. Acredito que esta sua característica atrai um público interessado no que há de novidade, de moderno, de contemporâneo no terreno das artes. Tornou-se, sem nenhuma dúvida, um sucesso de público. Desde da sua inauguração fui muitas vezes ao museu.
Vi as obras, vi os visitantes, vi as atenções, vi as emoções, vi as desatenções, vi o espelho do tempo. E o que via decidi registrar com a minha câmera. Palmilhei as várias salas do museu 66 vezes, do dia 30 de março de 2016 até 02 de novembro de 2019. Quase todos os dias da semana foram visitados mas dei preferência às quartas-feiras pois este dia a entrada é gratuita e a afluência de público é maior e diversa.
Procurei ser o mais discreto possível e não invadir a privacidade das pessoas. Com estas fotos quis fixar uma aproximação entre os que apreciam as obras expostas e a sua interação com elas. Penso quase com certeza que, fora os seguranças do museu, ninguém notou que eu estava a fotografar os visitantes. Gostaria de que as pessoas que olhem estas fotografias sintam a mesma emoção que e u senti ao tirá-las. Aquele momento único captado em x/avos de segundo que jamais se repetirá.
* O título em latim tirei de uma citação do conto “Utopia de um homem que está cansado” do “Livro de Areia” de Jorge Luis Borges. Quer dizer “ser é ser retratado”ou “ser é ser percebido”.