Fernando Morais é meu autor nacional favorito. Li três livros dele, todos eles adoráveis. Morais é um autor investigativo. Seu texto é visceral. Como dizem os acadêmicos, são grandes reportagens impressas em livro. Algo que fico atraído por conta de minha profissão. Hoje ele rasgou sua ficha do PMDB em um ambiente repleto de sindicalistas da CUT excitados com o discurso do escritor. Ele é da turma que define esta esbórnia nacional como golpe.
Nem sabia que Morais era filiado, porque no imaginário do leitor ele é uma entidade, um escritor. Mas quando Morais se manifesta publicamente ele se despe do imaginário. Assume uma posição que poderá desagradar o seu universo de leitores. Ele pode dizer em off, foda-se meus leitores. Antes de ser um escritor, sou um cidadão e tomo posição política.
Fiquei alguns bons anos na academia cursando História, base suficiente para entender processos políticos que marcaram a história do Brasil e Mundial. Não consigo achar elementos que possam rotular este processo como um golpe. Pelo contrário, o STF (aquele que a direita afirmava estar sob a tutela do governo) quer saber de Dilma Roussef porque ela vive discursando que é vítima de um golpe. Não lembro de Fernando Morais rasgar qualquer coisa quando Fernando Collor caiu. E nem discurso afirmando que seria um golpe o que estavam fazendo com o alagoano.
O governo da inclusão foi pego em flagrante porque seus atores estavam roubando. Se não fossem flagrados nada disso estaria acontecendo. Dilma caiu porque sua retórica da inclusão era na verdade o inverso. Colocou o país na pendura. Enganou a população na campanha eleitoral. Mentiu. A economia do país está(va) enferma e ela escamoteou para vencer a eleição. Distribuiu dinheiro como seu fosse uma dominical Sílvio Santos no melhor estilo quem quer dinheiro. O um ex-ícone do PT, Hélio Bicudo, denunciou. Simbólico, não?
Fernando Morais só se deu conta agora que seu partido é um bando. Rasgou a ficha tarde. Não que o PMDB seja golpista. Ele é o que é e todo mundo conhece, só Morais não. Enxergou agora. E o que é pior, motivado por um posicionamento errático. Seletivo demais para um escritor do tamanho de Fernando Morais.