Com o advento da fotografia digital todo mundo é fotógrafo. Basta ter um celular. Nos tempos do filme nem todo mundo era fotógrafo. Havia os registradores de momentos com câmeras de foco fixo (as famosas Kodak) e os fotógrafos de verdade com suas câmeras profissionais. Requeria conhecimento para escrever com a luz. Com o digital a fotografia foi massificada. Não diria a fotografia, mas a imagem, porque entendo como fotografia aquele 3×4, 10×15, 12×18… no papel. Ok, todo mundo pode, e deve fotografar. De preferência que revele, imprime, enfim, transforme a imagem em fotografia. Mas daí querer se achar um artista da fotografia há uma distância muito grande.
Só hoje abri dois releases de exposições fotográficas anunciadas para BC e Itajaí. Não tem como publicar com as fotos enviadas. São muito fracas, pobres, amadoras… algo que eu ou você, leitor, pode fazer. A culpa disso tudo é a falta de critério dos locais que recebem estas exposições fotográficas. Estendo a crítica a universidades, shoppings e a nossa estimada Fundação de Cultura. Porque se achar fotógrafo todo mundo se acha, mas para expor as fotos tem que haver um crivo, um filtro externo. Expor fotos em homenagem ao dia dos pais com fotos óbvias não acrescenta nada para um shopping. O que uma exposição de foto como essa irá acrescentar ao espectador? Nada, absolutamente nada.
O mais incrível é ver a Lei de Incentivo bancar uma exposição de fotos de grávida, “vendida” ao público como arte. Fotografia de gestante é puramente comercial. Não há nada de arte fotografar barrigudas. Mas não podemos exigir muito da nossa querida Fundação de Cultura que também considera arte a reprodução de clássicos das artes plásticas em suporte de skate e prancha de surf. Então deixa quieto.
Às vezes sou confundido. Me chamam de fotógrafo algo que sempre fui, mas para consumo próprio. Participei de três concurso, em dois pequenos fui premiado e no grande nem cheguei perto. Vivo fotografando especialmente quando viajo. Jogo todas no Photoshop quando retorno de viagem (no tempo do filme revelava tudo). Olho cada uma. Ajusto aqui, ajusto ali. Fica bem legal (nos tempos do filme havia o ritual de espera pela uma hora de revelação sem poder mexer em nada, era tudo no olh0). Mas jamais ousaria levar para a direção de um shopping para dizer quero expor sem antes enviar todo material para que profissionais da fotografia avaliem as fotos. Fiz um ensaio nas abandonadas estações de trem do Parque Marumbi, em Morretes (foto ilustrativa do post). Usei bastante Photoshop. Achei bonito, mas não sai do meu computador enquanto um fotógrafo (ou mais de um) responder: isso é bom pode expor. Isso uma merda. Que fique para consumo próprio.
Esse semancol é que falta aqui na paróquia. Tudo isso poderia ser evitado se os curadores responsáveis pela seleção fizessem como fiz ainda há pouco para o emissário do release de uma expo em Itajaí: “Como fotógrafa é uma ótima antropóloga e professora”.