Matéria de capa publicada na edição 24 da Photo Magazine.
Philippe Mougin é um fotógrafo francês de 40 anos, nascido em Paris, e que vive e trabalha em Lausanne, na Suiça. Independente há vários anos, em 2006 se lançou no estilo de fotografia de longa exposição, dando inicio a série L’âme de fond (algo como a alma ao extremo) um mergulho a um universo imóvel, um convite à viagem dentro de jogos de luz e sombra.
Através deste trabalho, Mougin não buscou uma reprodução fiel das paisagens, mas o contrário, um testemunho íntimo que estimula a imaginação do espectador. A série começou na Suíça, à beira do lago Léman, e seguiu ao longo da costa mediterrânea e atlântica, da França e da Espanha. “Atualmente eu tenho uma seleção de 50 imagens incluindo as séries waterscapes e landscapes. O projeto “L’ame de Fond” é um trabalho a longo prazo. Eu tenho algumas ideias de lugares onde eu gostaria de continuar esta série, como por exemplo, ao longo das costas marítimas inglesas”, comenta o fotógrafo em entrevista por e-mail a reportagem da Photo Magazine. Qual sua inspiração? “Uma paisagem, aparentemente insignificante, pode dar uma luz extraordinária à uma imagem, diferente da realidade, graças a longa exposição, isto permite descobrir e redescobrir um lugar muitas vezes banal”. Parece simples.
As locações de Mougin variam entre o pré-determinado e o ocasional como ele próprio afirma: “Certos lugares foram fotografados durantes minhas viagens. Outros são pré-determinados e acontece de eu retornar varias vezes ao mesmo local, até eu obter a luz que eu procuro”. A luz que Mougin procura são dos dias carregados de nuvens ou após uma tempestade, preferencialmente nos finais de tarde. Há como rotular conceitualmente L’âme de fond? “A técnica de longo tempo de exposição me permite escapar da vida real e olhar de outra forma o mundo que nos rodeia, de sentir o espaço, os elementos e o universo. São estes os momentos que eu tento fotografar. É uma viagem dentro do tempo, um tempo nostálgico, talvez intemporal”, responde o fotógrafo que não dedica integralmente seu tempo como profissional às imagens de longa exposição. “Eu trabalho com outros temas também, com outras técnicas, como por exemplo, a utilização de um aparelho chinês 6×6 em plástico chamado Holga, que me dá imagens surreais, oníricas”, complementa.
A longa exposição varia de um a quatro minutos, graças a utilização de filtros específicos – “Antes de acionar o aparelho eu fixo um filtro que me permite de ganhar 9 diafragmas a menos na exposição”. Os equipamentos usados por Mougin são, basicamente, uma Hasselblad 6×6 e uma digital Canon 5D, além dos acessórios de apoio, ou sejam um tripé – bem pesado – e um exposímetro “Sejam meus negativos 6×6 escaneados ou meus negativos digitais no formato raw, o tratamento se faz com Photoshop. O processo é o mesmo que o do ampliador em câmara escura, só os utensílios são diferentes. O que eu emprego na pós-produção se limita ao trabalho de densidade e de contraste da imagem, assim como o ajustamento de certas zonas locais da foto”, revela o fotógrafo.
Desde 2006 trabalhando com fine art, Mougin criou com outros sete fotógrafos o 8Reg’ Art, coletivo que tem como objetivo promover a arte fotográfica, expressão pouco conhecida na França e na Suíça, ao contrário de mercados como o inglês e o norte-americano. “Uma primeira manifestação aconteceu na França, na região da Normandia, em outubro passado, reunindo 25 fotógrafos que convidamos e com mais de uma centena de obras expostas. A próxima etapa será um tema em comum tratado com o olhar cruzado do coletivo”, antecipa Mougin que deixa um conselho para os fotógrafos interessados em explorar trabalhos com longa exposição: “Através deste modo de expressão cada um pode revelar sua própria sensibilidade. Esta técnica se aprende essencialmente pela prática, experiências e muita paciência”. Está dado o recado.