Quando as imagens estavam sendo selecionadas Patrick Grosner pediu para incluir uma de Chico Science, que foi capa do Correio Braziliense quando da morte do líder da banda Nação Zumbi. “Foi como se eu pudesse ter feito uma homenagem”, justificou o fotógrafo a importância daquela imagem para ele que começou a fotografar no Canadá, em 1989, quando sua mãe foi fazer pós-graduação. Na época, Grosner estava terminando o segundo grau e na escola havia um laboratório de P&B do clube da fotografia. “Eles me davam filme, papel e ainda me emprestavam uma máquina Pentax K1000. Fiquei viciado. Virava noites na escola revelando e ampliando”, relembra. No semestre seguinte foi aceito no departamento de artes da escola e fez o seu primeiro curso de fotografia. Este curso lhe deu a certeza que trabalharia com fotografia, sua chance para juntar a paixão com a profissão.
Ao retornar ao Brasil no início dos anos 90 começou a registrar a cena rock em Brasília e, depois, fixou residência em Portugal onde integrou a equipe de fotógrafos e subeditor de fotografia do jornal O Independente. Retornou ao Brasil em 2006 e agora, em 2009, aos 39 anos de idade, completa 20 anos de trabalho, marcado pelo lançamento de seu site www.patrickgrosner.com. Grosner concedeu entrevista, por e-mail, a reportagem da Photo Magazine falando especificamente de uma de suas especialidades: a fotografia de shows. Foram mais de mil, segundo ele. Acompanhe:
Percebi que você registrou boa parte das bandas e personagens do rock brasiliense dos anos 90. Por que essa opção? Foi daí que você tomou o gosto pela cobertura de shows?
Quando voltei para Brasília, em 1990, todos os meus amigos estavam envolvidos com música. Eu tinha pelo menos um amigo tocando em cada banda da cidade. Era um movimento, uma segunda leva do rock de Brasília. Como nunca me esforcei realmente para aprender a tocar um instrumento, resolvi fotografar o que estava acontecendo. Fotografava os ensaios, os shows, realizava sessões de fotos para divulgação e etc. Algumas bandas cresceram e fizeram muito sucesso. Emplaquei algumas capas e encartes, e com os Raimundos criei um vínculo bem forte de trabalho. Tenho muito material deles. A minha ligação com a fotografia de shows realmente vem deste meu período.
Como pegar a manha para captar boas imagens num show?
Com um bom equipamento e muita prática. Tem que assimilar toda a energia, a velocidade e a baixa luz que acontecem no palco. Saber se posicionar, e além de esperar, antecipar o momento do click.
Geralmente o fotógrafo fica restrito ao chamado chiqueiro, isso não dificulta o fotógrafo porque ele não tem mobilidade para buscar diferentes ângulos?
Dificulta sim! O chiqueiro restringe os ângulos sem dúvida. Mas também impede o público de te esmagar. Alguns shows deixam a plateia histérica! É bom ter algo ali entre você e o palco. O chiqueiro também te deixa na cara do artista. O problema é quando o palco é muito alto. Mas mesmo assim prefiro os shows que tem os chiqueiros. Já me adaptei.
Há também, em determinados shows, que o fotógrafo é liberado para ficar determinado tempo para fotografar, e nem sempre nos melhores momentos dos shows, como administrar essa situação?
Isto geralmente acontece em shows internacionais e de bandas grandes. Normalmente liberam as três primeiras músicas. O fotógrafo tem que se virar para fazer o trabalho. Depois sempre enxotam os fotógrafos com uns seguranças trogloditas. É como dar e tirar um pirulito de uma criança. Se eu fosse músico gostaria que os fotógrafos pegassem as melhore fotos possíveis.
A iluminação de palco é um aliado do fotógrafo?
Aliado? Ou inimigo? Depende sempre do show. Tem show que o efeito visual é para mostrar tudo com uma luz bem intensa. Aí podemos sempre escolher mais como registrar. Agora, tem vezes que o efeito visual é lindo, mas só de penumbra, super difícil de captar. Um boa luz de palco é essencial para a fotografia, mas saber tirar partido da luz que você encontra também ajuda muito.
Antigamente se falava que se detonava, um, dois, três filmes por shows. Hoje com o digital se mede por cliques, não é? Você costuma clicar muito durante um show? E quanto disso tudo você chega e diz: perfeito.
Eu sempre fui dedo leve! Disparo bastante. Até na época do filme eu mandava ver! Gosto de ter bastante opção de edição. E para saber que uma foto é melhor que a outra, nada melhor que várias opções para confirmar a sua escolha. Mas depende, acho que posso fazer uma média de 150 fotos para cada show de três músicas. Fico muito satisfeito quando consigo pelo menos uma boa foto de um show. Acho que geralmente consigo, tenho uma boa média de aproveitamento.
Você está em tudo quanto é lugar. Tens ideia de quantas coberturas já fez?
Eu nunca contei! Mas chuto que por baixo já fiz mais de mil shows em 20 anos de trabalho.
O que você busca quando foca um artista no palco?
Depende do artista. Alguns a emoção, a energia, a expressão ou um momento de explosão. Outros, um detalhe, uma sutileza ou até mesmo só um momento de pausa para respirar.
Que equipamento costuma utilizar?
Eu uso Canon. EOS 1V para filme e EOS 1Ds MarkII para digital. E a lente que mais uso nos shows é a Canon EF 70-200MM F2.8L IS USM. Eu prezo muito o equipamento e acho que tem que ter o melhor possível para ajudar no trabalho.
Por fim, pra você o que uma boa foto de show tem que ter?
Uma boa foto de show tem que dar a impressão para quem vê, de quase poder escutar um som saindo de dentro dela.
Matéria publicada na Revista Photo Magazine, edição 25, 2009.