O brasileiro Lucas Campagnolo que atua nas principais ligas do padel mundial teceu críticas pesadas aos jogadores de padel no Brasil em entrevista ao canal Veintediezpadel no Youtube. Campa, como é conhecido, passou pano na atuação da Cobrapa direcionando suas críticas unicamente aos jogadores. Para ele, o Brasil é a quinta força do mundo superado por Portugal e França e ainda prevê um drama a ser vivido no próximo mundial de seleções.
Campa refere-se aos convocados como “que se dizem da seleção”, mas vê falta de comprometimento dos principais jogadores. Citou a ausência de brasileiros no Premier de Mendoza com duas perguntas: “Medo das prévias? De perder para alguém que no Brasil nem conhecem?”
O jogador diz que no Brasil se vive num pedestal que não existe e também não poupa o principal circuito dito profissional no Brasil, um torneio que “se disputa entre eles”, por isso quando surge inscrições sobretudo de jogadores argentinos estes sempre se dão bem. Para Campa deve-se valorizar ele próprio, seu xará Bergamini, Chico Gomes e Marcelo Jardim pelo que já fizeram durante todos esses anos no circuito profissional, afirmando que para crescer tem que sair do país.
A crítica de Campagnolo reflete, na verdade, uma estrutura amadora que prevalece no padel brasileiro. Pois vejamos:
A Cobrapa é um clube fechado que sequer presta contas de suas atividades. Basta navegar no site oficial da Confederação para se ter uma impressão negativa do padel no Brasil considerando as informações sobre os clubes e filiados;
Os donos de clubes encaram o padel unicamente como um comércio. Em função disso circuitos pipocam em todos os cantos do sul do país de acordo com o interesse dos clubes ou ligas improvisadas criando-se ilhas num calendário saturado;
O trabalho realizado com os menores é seletivo e sem critérios que percebam que os dirigentes estão lidando com crianças. Os torneios de menores registram um baixo número de inscrições em cada etapa seja do circuito brasileiro quanto nos estaduais.
Não há integração de núcleos formadores de jovens jogadores de padel;
Os representantes das marcas de raquetes (que não são poucas no mercado, caras e com muita demanda) se viram como podem para apoiar um ou outro atleta, mais na base do apoio do que um patrocínio capaz de escapar do “paitrocínio”, que é, na verdade, quem banca os menores que representam a renovação da modalidade;
As transmissões são sofríveis tanto tecnicamente quanto de profissionais do ramo;
Enfim, o que falta? Um envolvimento maior entre todos gaúchos, catarinas, paranaense e demais representantes de estados onde o padel está crescendo? Certamente que sim. O padel é um esporte de elite, basta olhar os estacionamentos dos clubes e os preços cobrados para jogar uma hora. Não é nada barato, pelo contrário, para ser um fominha do padel o gasto mensal é uma pequena fortuna. Sendo uma modalidade familiar, imagina multiplicando por dois, três ou quatro essa despesa mensal.
Então parece um contrassenso girar tanta grana e se constatar o crescimento do padel recreativo e, em por outro lado, ter que correr atrás de patrocínios menores para manter o padel competitivo. Não há um estudo que aponte o potencial econômico que representa o padel para o retorno de um patrocínio máster capaz de desenvolver a modalidade competitiva e, por consequência, o crescimento dos atletas em direção a um verdadeiro profissionalismo. No Brasil contamos nos dedos quem é profissional no circuito dito profissional.
O desabafo de Campagnolo poderia ser mais útil se ele não focasse somente nos atletas. Seu desabafo ganhará somente desafetos de quem está no tal pedestal inexistente e nada será feito para mudar a estrutura do padel no Brasil.