O homem que sabe tudo é como o jornal La Repubblica definiu o filósofo, semiólogo e romancista italiano Umberto Eco, autor de “O nome da rosa” e “O pêndulo de Foucault”, ao anunciar sua morte aos 84 anos. Numa sociedade contemporânea cada vez mais fútil, dominada pela conhecimento raso, sem mediação, a perda de Eco é um golpe ao que nos resta de intelectualidade. A vida do italiano foi marca pela busca incessante do conhecimento, algo cada vez mais raro na sociedade digital.
Uma de suas virtudes foi a de colocar em pauta a semiologia, o estudo dos símbolos relacionados as atividades humanas em geral. Eterno crítico da atividade jornalística por onde militou boa parte de sua vida, Eco dedicou um livro para registrar esta sua intimidade com a comunicação. Zero foi recebido como um manual do mau jornalismo, algo proposital provocado por Eco conhecedor dos bastidores dos jornais e seus segredos de intenções não reveladas. Defensor dos livros físicos e crítico voraz da internet, Eco também fez questão de registrar no livro Não contem com o fim do livro. Irônico, o filósofo comentou após a sua defesa em livro. “Comprei um iPad e gostei”.
Em suas entrevistas as frases sempre foram marcadas por ironias, especialmente quando fala de O Nome da Rosa e seus 30 milhões de exemplares vendidos. Para ele há controvérsias sobre este número. Ele acredita que foram muitos mais exemplares vendidos por conta dos mercado chinês e russo marcados pela pirataria já que não havia controle sobre os direitos autorais. Mesmo com este estrondoso sucesso, Eco dizia que fazia romances para masoquistas. Isto por seus escritos ter fama de complicado entendimento pelos leitores. Podemos comemorar que temos milhões de masoquistas espalhados pelo mundo. Também íntimo com as coisas da religião por conta de seus estudos sobre São Thomás de Aquino, o filósofo via com bons olhos a figura de Papa Francisco “por não se apegar ao ‘talibã'”, ou seja, o dogmatismo.
Eco se foi. Perdemos a sua figura física, mas com o consolo de poder desfrutar de sua extensa obra.