Já viu Retratos Fantasmas? Fui indagado por Fernando Borck. É do mesmo diretor de Bacurau. Como já tinha ouvido falar e que o tema era cinema, ou melhor, salas de cinema de rua de Recife, passei a me interessar mesmo com a sensação, ah tá, é só mais um doc.
Acessei o Netflix e comecei a assistir. Logo a narrativa criativa e original de Mendonça Filho me conquistou. Primeira ele aborda seu apartamento que serviu de set para vários de seus filmes produzidos.
Na segunda parte ele percorre os cinemas de rua de Recife num convite a quem assiste a exercitar suas recordações. As novas gerações não sabem do que se trata até porque o hábito de frequentar salas de cinema de rua caiu em desuso, mas nos tempos antigos você tinha uma relação muito próxima com os cinemas de sua cidade.
Eu, por exemplo, mergulhei no túnel do tempo para sentar nos bancos estofados do Cine Blumenau, no alto da XV e no Cine Bush, ali na boca da Alameda. Mais o Cine Blumenau por estar quase ao lado de casa na Amadeu da Luz. Não importava o filme em cartaz, adentrar no escurinho do cinema (sem drops de anis) era programa obrigatório. As matinês de domingo então, não faltava um.
E no verão outro cinema era obrigação, mas este em Balneário Camboriú, o Cinerama Dellatorre. Muitas recordações. O primeiro filme em cartaz que fui assistir e com vergonha de perguntar onde era o banheiro fiquei lá contando os minutos para terminar (nos primeiros anos de cinema eu veraneava em frente no Edifício Atlântico), o acesso para ver Corrida contra o Destino (proibido para menores de 18), os filmes dos Flinstones que lotavam a sala, o lançamento do filme de Vera Fischer, enfim, praia e cinema se confundiam na programação das férias.
Enfim, Retratos Fanstamas eu recomendo para as gerações mais antigas e nem vou dar spoiler do final que é sensacional e… desanimador.
Ah, ia esquecendo anotei uma frase narrada no doc que resume tudo sobre os cinemas: “Um cinema como esse cria caráter”.