De olho no mercado das chamadas cervejas especiais – produzidas a partir de receitas exclusivas e com ingredientes mais nobres –, as cervejarias inovam nas formas de divulgar suas linhas deste tipo de produto. No caso do Grupo Petrópolis, que produz a Itaipava e uma vasta lista de outras bebidas, alcoólicas ou não, uma das maneiras de chamar a atenção para suas crias são as visitas guiadas às suas fábricas. Convida-se um grupo de jornalistas e donos de bares para mostrar como se transforma água, malte, cevada e fermento – entre outros ingredientes – no adorado líquido.
Foi num destes passeios que embarquei na última sexta-feira. Os convidados foram levados até a unidade do Grupo em Teresópolis, na região serrana do Rio. A fábrica é uma das seis unidades produtoras da empresa – há outras em Petrópolis, São Paulo, Bahia, Mato Grosso e Pernambuco –, e é voltada quase que exclusivamente para as cervejas especiais. O Grupo Petrópolis é o segundo maior do ramo no país, perdendo apenas para a Ambev, e detém 12% do mercado.
A visita começa com uma palestra do mestre-cervejeiro da unidade, Eduardo Melo, que fala sobre os vários tipos de cerveja e explica a forma de produzi-la. Em seguida, começa o ponto alto: um passeio pelas instalações – tanques gigantes pelos quais a bebida vai passando em sua fabricação. Num deles, os convidados degustam algumas cervejas ainda em fase de maturação, numa prévia do que elas se transformam quando chegam ao consumidor final. O processo de engarrafamento, quase 100% automatizado, também impressiona pela rapidez.
Depois de conhecer uma das fazendas de onde se retira a água utilizada na produção e o trabalho ambiental promovido pela empresa, chega o momento de experimentar o resultado de todo aquele trabalho. Numa espécie de bar montado no segundo andar da fábrica, o mestre-cervejeiro – empreguinho bom, esse – vai abrindo garrafas das especiais, explicando as diferenças entre elas e com que petiscos cada uma harmoniza melhor.
Os destaques são os rótulos das linhas Petra e Black Princess, mas as joias da coroa são as alemãs Weltenburger. Alemãs de origem, pois elas são fabricadas ali mesmo, seguindo fielmente as receitas criadas no mosteiro na região da Baviera em que elas surgiram. A mais tradicional é a Anno 1050, cerveja de mosteiro mais antiga do mundo – o 1050 do nome marca a data do início de sua produção. Além dela, dos tanques da fábrica jorram a Barock Dunkel (cerveja puro malte escura), a Weltenburger Kloster Hefe-Weißbier Dunkel (escura, de trigo) e a Weltenburger Kloster Urtyp Hell (uma amarelo-ouro de sabor encorpado).
O Grupo produz as Weltenburger desde 2010, é o único autorizado pelo fabricante alemão a reproduzir suas receitas. “O sabor típico das cervejas alemãs é preservado, pois a receita e a matéria-prima utilizada são as mesmas do mosteiro”, explica o mestre-cervejeiro. Para manter as características originais dos produtos, a fábrica brasileira passa por vistorias semestrais e envia amostras das cervejas para a Alemanha, onde são analisadas.
O resultado de tanto esforço, pelo que anotei – minhas lembranças desta tarde são um tanto nebulosas –, é um conjunto de cervejas de sabor marcante, diferentes das mais conhecidas do consumidor. Adequadas para disputar um mercado que, se não é imune à crise, sofre menos com ela, pois é voltado para um público de maior poder aquisitivo.